Kalleb é um cachorro velho que vive sozinho numa casa que considera demasiada grande para ele, entretanto há muitos anos não põe a pata para fora das limitações de seu quintal. Trabalha produzindo relatórios dos dados que recebe, e depois envia por email para uma empresa de porte consideravelmente grande.
Entre os litros de leite que bebe, entre
as ajeitadas nos óculos e as paradas para morder o rabo, rapidamente seu dia passa
e os relatórios ficam prontos, sempre com antecedência. Raramente recebe visitas, elas costumam se
impressionar com a extravagância das cores de sua decoração, no entanto aos
olhos de Kalleb, tudo era uma variação de cinza.
Algumas vezes vai até o portão e
observa a rua, mas sente-se incapaz de abri-lo, vê outros cães passando sempre
acompanhados, seja de pessoas ou outros cães, "sabe-se que raramente um
cão anda só", diz para si mesmo e logo sua ansiedade passa. Retorna para
dentro de casa com a imagem da companheira que o abandonou, ela o castrou para
não terem filhos, passeavam sempre juntos, depois dela nunca mais saiu, não
entende por que o deixou, mas tenta sempre pensar nela de uma maneira positiva.
Afinal um cão de dez anos acredita que
terá sorte se viver mais três, na sua conta já são setenta, esperava somente
uma coisa: que após sua morte, ela voltasse para enterrá-lo.
Texto - Cadu Taveira.
Texto - Cadu Taveira.