quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Bicho homem

   Aah... bicho homem, aonde vais tu? Como pisas tão firmemente o solo enquanto vosso semblante denúncia que estás à planar? Em que pensas tu, para sorrir com tanto caos ao redor? E como questionas a ti mesmo numa linguagem pseudo arcaica, obsoleta, retrogradada para supor profundidade em demasia? Arrisca-te em saber o que não sabes, culpa-o na falha, culpa-te na glória.
   Bicho homem, o que buscas tu? Queres felicidade, prazer e o que mais queres é companhia, e assim personificas tudo, torna tudo todos e todos tudo, como vasos de carne, recipientes de perfume; é a essência que queres, por mais que lhe atraia o frasco, decidirás pelo aroma do perfume, buscas o conteúdo.
   
Bicho homem, decifro-te nas conseguintes de meus questionamentos, compreendo-te e concluo: Encontrastes um alívio, uma sombra em meio ao árduo e escaldante caminho sob o Sol. Agora uma árvore pomposa convida-te a repousar sob a sombra, e tu não hesita em descansar, deitado sob a proteção das folhas, mira os galhos mais altos e discerne os frutos que saciariam sua fome, eles é que são o conteúdo da sombra externa, morrerias na sombra caso a árvore não lhe alimentasse.
   Aah... Bicho homem, encontra-te ai, amparado e acolhido, fascinado com a descoberta, queres subir a árvore e não teme a queda, queres apreciar o alimento e acabar com sua necessidade, queres o toque macio da sombra, como um carinho na pele queimada do sol, queres a brisa do vento e o olhar austero e superior que se tem lá de cima, e assim deixas até mesmo de ser homem, torna-te apenas bicho, pássaro que ali faz seu ninho e se refugia.



Carlos Eduardo Taveira dos Santos. 

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