quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Através da bruma.

     Prospectou através da bruma nebulosa uma feição de mulher, bela mulher de sombras negras nos olhos e palidez mortal na pele, pintada como se fosse uma tatuagem de Lá Santa Muerte. Banhou-se em minhas águas, enfeitou-se em meus espelhos, pousou em mim seus olhos, que insistiam em mostrar-se profundos, mas que sabia eu, eram apenas reflexos de minha própria profundidade.
     Mostrou-se carinhosa comigo, falou-me com a intimidade de outrora e a ternura de outra vida. Encontramo-nos num plano sem tempo, com muito esforço caminhei arrastando uma das pernas, haviam revólveres que outros me entregaram, quando os tomei nas mãos, notei logo que eram de brinquedo, mas havia quem me pagasse.
     Ela confiou em minha palavra, ajudou-me e quis ficar em minha companhia, deu preferência a minha presença e disse não ser capaz de me ferir, era uma data especial, a Terra deu mais uma volta em torno do Sol e nós continuávamos vivos. Estranhei a data e ainda sim, mantive os olhos fechados, era a única maneira de enxergá-la.


Carlos E. Taveira dos Santos



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