Venho em partes separadas que se encaixam com o tempo, mais parede do que solo, mais vertical, construção inacabada, percebe-se a falta de tijolos, evidência incontestável das ausências e irregularidades.
Não sei se o que (sou/vejo/vivo/sinto), é dádiva ou é maldição, - escolha sua palavra
Flutuo por todos os mundos sem pousar, como um semideus mesquinho com inveja dos mortais, - felizes e efêmeros -, quando meus pés tocam o solo não sustentam meu corpo, equilibro-me com pensamentos bons e atitudes nem tanto.
Meu ego é descentralizado e cheio de "ísmos" e mimos.
Minha libra desajustada, indica erroneamente que meus pequenos delitos e grandes pecados, pesam o mesmo que meus poucos atos de bondade e minhas muitas palavras empíricas e eloquentes, que muitas vezes servem apenas como desculpas para minhas falhas.
Sempre fui muito mais poses que aparências, mais os frutos de que a raiz, mais o profundo do que a superfície, em que muitas vezes boiei como um barquinho de papel mal feito.
Mas quando minhas palavras fazem a bela mulher relembrar poesias, quando meus pensamentos fazem o belo rapaz me exaltar, ah... Quem sou eu neste mundo infame? O garoto perdido na floresta em seu anseio por liberdade, prestes a tornar - se lobo solitário? A cabeça pensante austera, cercada de dignidade, cérebros e célebres amigos? Ou sou apenas poses, sabores e embarcações débeis? Papel na água.
Quantos Cristos beijei por menos de trinta pratas? Quantas vezes atuei como Mordred? Eu que fui de guru a falso profeta e herege. Eu que compartilho o fogo roubado, tenho o fígado estragado, tomei os olhos do oráculo e vi meu futuro; nele havia um muro, cercando um terreno vazio.
Carlos Eduardo Taveira.
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