quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A Igreja - [Trecho de O Mal de Otávio]


          
          O âmbito tinha uma arquitetura pseudogótica, a iluminação oblíqua e débil das velas, era reforçada pelo resquício de luz vespertina que trespassava os vitrais coloridos das janelas pontiagudas, neles havia mosaicos da Sagrada Família, do Menino Jesus, e da Santa Mãe Virgem; quatro pilares de cada lado estruturavam a abóboda da nave, na frente de cada pilar havia uma estatua de gesso que representava um santo diferente. Otávio distinguiu São Francisco de Assis, o protetor dos animais, São Jorge montado em seu cavalo branco a esmagar o dragão maligno, São Pedro com a chave do céu, além de outros tantos que fugiam ao seu conhecimento; o altar tinha o chão de mármore e a mesa estava forrada com toalha branca, sobreposto estava o cálice, a âmbula dourada com as hóstias, as galhetas com água e vinho, e o Missale Romanum, na parede ao fundo do altar, havia uma cruz cor de carvalho ostentando a imagem de Cristo, magro e humilhado, com o ferimento da lança ao lado do peito, coroado com espinhos na cabeça a gotejar sangue, o semblante cabisbaixo de um derrotado. Imerso em sua análise, Otávio concluiu que não havia melhor sentença do que a própria que foi dita: "Pai, perdoai-os, pois não sabem o que fazem".

2 comentários:

  1. Concordo com o Otávio. O clamor de Jesus ao Pai pelos seus algozes, é a melhor sentença. Bom, pelo menos pra nós, que fomos perdoados sem merecer

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  2. E continuamos como algozes, sem saber ao certo o que estamos fazendo.

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